O ÓBVIO FINALMENTE REVELADO!!!

segunda-feira, 15 de julho de 2013

QUANTO CUSTA SUA UTOPIA?

No início do século XVI, Thomas Morus criou a palavra utopia. O neologismo pegou. Confesso que a leitura de Morus não foi a mais excitante que tive na minha vida. Talvez não goste muito da formação da palavra utopia e isso tenha influenciado. Ou talvez não goste muito de utopias. Não sei dizer o que foi exatamente. Mas, com certeza, não estaria no coro daqueles que exigiram sua cabeça. Naquilo que posso chamar de minha utopia, ao menos, tais violências não aconteceriam. A antipatia com a palavra talvez tenha algo de "normativo" ou, como dizem os chomskyanos, de "agramatical": não há muitas palavras com esse bizarro prefixo u- grego, que significa "não". Pareceu-me, quando consegui dissecar a palavra, que Morus não era bom neologizador. Não é diferente a situação dos que se metem a escrever em latim hoje em dia e há áreas em que isso é absolutamente importante, como na Taxonomia (os nomes científicos mais bizarros que já vi são os criados pela Paleontologia). Mas, convenhamos: ser culto já era, diriam alguns. Ninguém se importa com hibridismos e quem faz isso corre o risco de ser tachado de purista. Obviamente hoje em dia ninguém mais pensaria seriamente em consertar um hibridismo como televisão, como fariam sem pestanejar os adeptos das pataquadas de Castro Lopes no final do século retrasado. Mas, paradoxalmente, muitos que reconhecem essa insensatez estão prontos a crucificar quem escreva fora da norma culta. É um risco escrever. Mas risco de quê? Por que o medo de ser ignorante é tão grande assim hoje? Não somos sempre todos nós ignorantes em algo? Ruim mesmo é ser ignorante em tudo, pois revela não ter paixão por nada. Em vez da aurea mediocritas, os tempos belicosos de hoje fazem que os mortais tomemos partido ou a favor da norma culta ou a favor da língua falada. E com isso nascem rótulos. Alguns absurdos.
Por exemplo, você sofre de parasquavedequatriofobia? Se sim, também deve sofrer de falta de conhecimento etimológico. Se não fosse um amigo genial meu (cujo nome omito por não saber se posso citá-lo), teria dificuldade em perceber que nessa palavra estranha estão escondidos os nomes da sexta-feira e do número 13 em grego moderno. Então por que não é parasquevodecatriofobia, pergunta meu eu castrolopesco? Enfim, existe mesmo um número significativo de pessoas com essa fobia ou é outro pseudorrótulo? Há remédio para isso? Suponho que as pessoas que sofram desse mal não sabem que os dias (incluindo a sexta-feira 13) são bastante convencionais, afinal um dia não tem 24 horas exatas. Além disso, dependemos de um momento-zero arbitrário, de modo que a cada quatro anos precisamos ter anos bissextos. Divago: mesmo sabendo disso, os pacientes assim rotulados continuariam parasquavedequatriofóbicos? Dá vontade de sair em passeata e pedir para consertarem tudo isso, mas não saberiam nem por onde começar.


Já que, mais uma vez, a vontade de consertar o inconsertável tomou conta do mundo, desde as vésperas da Primeira Guerra Mundial, eu nesta modesta página de blog estou determinado a  resolver um dos problemas mais cruciais de todos os tempos: a pobreza. E digo a tempo: não me refiro à pobreza de alma. Essa não tem cura. Não há utopia que dê conta do recado. Refiro-me à pobreza material.
Lá vai. Esses dias li um artigo de um ex-ministro. Não digo quem escreveu, nem onde escreveu, porque vão rotular-me disso ou daquilo. Sim, é impossível que um ser humano no mundo virtual fale algo sem ser rotulado. Mas temo que o voyeurismo virtual seja pura malandragem. Todo mundo tem alguma opinião, na maior parte das vezes, podre. Afinal, não somos oniscientes. E também erramos a cada palavra que falamos ou teclamos. Quem nega isso é um tremendo hipócrita. E os que dizem que não têm uma opinião no mínimo esquisita sobre algum assunto polêmico poderiam nos ensinar algo sobre ética. Mas preferem ficar enigmaticamente calados. Serão modestos demais para isso?
No fundo, o lado paparazzo de flagrar o outro sem calças, maximizado pelo hediondo Facebook (mas também exercível a partir de blogs como este) é uma evolução megadimensionada do antigo e provinciano fuxico. O índice de fofocalidade de um povo se mede pela quantidade de acessos. Mas fofoca, para além da sua função desmoralizante, é algo inútil. E mais: presta-se ao conservadorismo. No limite, se ninguém mais emitir suas opiniões, manterá o status quo. Se todos pensam igual, por que expor ideias polêmicas? Por que discutir? Por que, enfim, mudar? Nosso instinto de formiga sequer nos faz ver que há tanajuras entre nós, as quais alimentamos. O remédio contra a besteira individual tem sido a besteira coletiva. Não sei julgar qual é melhor nem qual é pior.
Pois bem, o ex-ministro a quem me referi defendia o Capitalismo. Obviamente é mais fácil defender o Socialismo. São raros os que conseguem defender o Capitalismo e não são malvistos. A razão disso é porque a usura é um pecado feio. No capítulo 21 do Evangelho de São Lucas não se fala da viúva que deu tudo que tinha e por isso era melhor do que os ricos, segundo a visão do Cristo? Sempre que leio isso é impossível deixar de pensar nas raízes cristãs do Socialismo e, daí, a sua aceitação e simpatia. Nesse sentido, o Capitalismo é menos palatável e quem o defende sabe o que está fazendo, pois está amparado, quase sempre, por seus pares.


No entanto, a oposição é falsa e tem raízes metafóricas. O Socialismo é uma utopia enquanto o Capitalismo é uma realidade. O Socialismo é ideal e o Capitalismo é uma ação. Se ouvimos que houve crise no primeiro sistema é porque sua implementação na prática sempre foi duvidosa. Nunca haverá crise real no segundo porque não se extinguirá a usura. Para um regime socialista impecável seria preciso uma ética sobre-humana, o que esteve longe de acontecer nos exemplos de nossa história e talvez de nosso futuro. Por outro lado, o Capitalismo aparentemente não tem ética, por isso precisa ser regulamentado por leis trabalhistas ou então, cinicamente, por pesquisas que provem que se o empregado comer e não ficar encarcerado com correntes nos pés terá vida produtiva mais longa e aumentará os lucros da empresa. A crítica real ao Capitalismo é, na verdade, a crítica à usura humana. Não há crítica possível para coisas reais, só para as teóricas. Senão, eu teria severas críticas à morte, à existência do apêndice vermiforme, da vesícula biliar e de outros vestígios inúteis da evolução.
Eu não entendo nada de Economia, por isso, resta-me apenas a utopia para achar alguma solução para deitar-me nessa cama de abrolhos. Pois bem, para haver o tal Socialismo utópico, seria preciso que houvesse conscientização universal e eu já passei da idade de acreditar que isso seja possível. Se um é consciente, o outro não é: dolorosamente simples assim. Vejam o lixo nas ruas, a falta de educação no trânsito e tantas outras coisas. Lamentar torna-nos amargos e irritantes. Implementar à força não é uma boa solução. Violência revolucionária também não é garantia de sucesso, pois oportunistas sempre há, quem não sabe? Prefiro a razão, ainda que tortuosa.
Calcula-se que há 50 trilhões de dólares no mundo. Essa é a estimativa e eu não sou economista para saber se é mais ou menos. Uns dizem que são 170 trilhões, mas fiquemos com a estimativa anterior, mais baixa. Suponhamos que haja 8 bilhões de pessoas no mundo. Provavelmente há menos. Dividindo 50 trilhões por 8 bilhões temos 6250 dólares por pessoa. Isto é o que, perseguindo o raciocínio socialista, deveríamos ter equanimemente nos nossos bolsos. Uma família com dez pessoas teria 62500 dólares. Não é mal, mas sem dúvida seria um incentivo à explosão demográfica (e a consequente diminuição do valor per capita, se constantemente recalculado). Ora, distribuir hoje de modo tão radical seria, no mínimo, um problema. Obviamente quem tem mais que 6250 dólares reagiria e não são poucos. Como a implementação disso seria absurda, abandono esse raciocínio.
Então façamos o contrário: deixamos tudo como está. Pobres e ricos, com imensas diferenças sociais. Mas acrescentemos um fator novo: ninguém pode ter mais do que um bilhão de dólares. Imaginemos que ter mais de um bilhão de verdinhas seria mais do que antiético: seria um criminoso digno dos tribunais internacionais. Quem tivesse mais precisaria doar o excedente a um órgão que o repartiria equitativamente a quem tem menos. O bilionário com certeza ficaria menos rico, mas os pobres deixariam a miséria? Só posso imaginar que, com certeza, uma pessoa com esse valor máximo não sofreria. Suponhamos que uma pessoa viva 80 anos. Isso equivale a 29200 dias de vida. São exatos 34246,57 dólares por dia para o bilionário gastar como quiser. Nada mal, pois estou contando todos os dias (desde que nasceu até o derradeiro).
Se os excedentes fossem distribuídos a partir dessa fictícia lei do teto de um bilhão, muita mudança ocorreria: novas empresas surgiriam, nova concorrência, o capitalismo não seria a farsa que se tornou desde a descoberta da América. Se há ética na Medicina, há ética na Ciência, não há razões para não haver ética na Economia e o teto máximo, aparentemente, seria uma boa solução. O Socialismo não seria imediatamente implementado, mas a concorrência (essa deusa capitalista) seria preservada e ao mesmo tempo, a desigualdade diminuiria. Não seria preciso nenhum sangue derramado e, de sobra, explosões populacionais seriam contidas para evitar a pulverização dos valores extrabilionários. Aí sim rumaríamos ao melhor dos mundos e não à piada leibniziana, que no fundo espelha algo de comodista no seu bojo teórico.
Seria tão difícil assim lançar a ideia de um teto máximo internacional a curto prazo? Veja, não falamos de causa e consequência, mas de ética. Os líderes religiosos, que somente sobrevivem por causa do mundo espiritual, não poderiam ajudar a divulgar essa ideia, em vez de papagaiar suas opiniões anticientíficas e reacionárias contra aborto, homossexualismo e outras bobagens?
Com o tempo, o teto seria considerado muito alto e, acostumados com a ideia, poderíamos baixá-lo ainda mais. A qualidade dos produtos aumentaria porque haveria mais concorrência, a população atingiria patamares confortáveis e a pobreza sumiria, apesar de continuar existindo mais ricos e mais pobres. A usura infinita seria apenas uma lembrança de uma triste histeria humana, como tantas outras presentes nos livros de história que hoje sequer conseguimos entender direito e, se incontrolável por ser natural, seria controlada pelo superego financeiro do teto máximo.
 


Da teoria para a prática: façamos a conta para hoje. No mundo todo, há uns 1500 bilionários e o mais rico deles tem pouco mais de 70 bilhões. Somados, têm uns 5 trilhões de dólares. Suponhamos que cada um fique com apenas um bilhão. Sobrariam 3,5 trilhões de dólares para dividir entre o restante da população mundial. Quanto seria isso? 437,50 dólares para cada um. Como a maioria dos bilionários têm mais de 60 anos, meu crítico diria que não vale a pena deixar um velhinho em apuros e não resolver a solução mundial. Mais que isso, a perseguirmos nosso raciocínio zombeteiro, na prática, apenas bilionários seriam afetados: muito milionário ficaria feliz com esses 400 e poucos dólares vindos de seu amigo bilionário. Dinheiro de pinga, certamente.
Qual seria a solução? A ideia do teto máximo parece tão boa. Quem dá menos então? Baixaríamos o teto para cem milhões? Seriam 4375 dólares para cada um em vez de apenas 437,50. Não temo a zombaria do meu raciocínio. Sei vagamente que muito desse dinheiro é virtual e nem existe de fato fisicamente. Aliás, Economia é uma das muitas coisas que ignoro solenemente e tenho minhas dúvidas se gostaria de perder meu tempo entendendo-a. Não substituiria um livro que fale da vida sexual dos tisanuros por algo que me explique definitivamente aquele jargão medonho dos teleprofetas analistas de mercado que matraqueiam sobre os mecanismos neokeynesianos. Acima de tudo, não é fácil calcular o que é um valor.
Não sei se ficou claro, mas nessas minhas divagações sempre advogo a causa da linguagem. Usamo-la para falar coisas sérias e asneiras. Às vezes, também serve para falar asneira com roupagem de coisa séria ou, ironicamente, o contrário. Portanto, implacável crítico, se digo dislates ou asnices, não me obrigue, por isso, a cometer tuitercídio. Nem mesmo twitter eu tenho.